De 21 a 28 de agosto, o Brasil celebra a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, instituída pela Lei nº 13.585/2017. A data tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão social, combater preconceitos e promover práticas que respeitem as diferenças.
Segundo o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o que corresponde a 7,3% da população com dois anos ou mais. No Nordeste, os percentuais são maiores que a média nacional, e Pernambuco divide com o Ceará o terceiro maior índice do país.
O que caracteriza a deficiência
A psicóloga Frínea Andrade, diretora do Instituto Dimitri Andrade, explica que a deficiência é definida por uma limitação continuada de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que exigem adaptações no ambiente para garantir a inclusão. “Se não houver uma rampa, por exemplo, um cadeirante não consegue subir uma escada sem auxílio. Essas deficiências, que podem ser múltiplas ou não, afetam o funcionamento individual e social da pessoa, sendo necessárias adaptações para preservar sua integridade”, afirma.
A importância da inclusão
Para Frínea Andrade, a inclusão é uma questão de igualdade e responsabilidade social. “Segundo dados do IBGE, cerca de 12 milhões de pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho no Brasil. É preciso que comunidades, empresas e órgãos públicos estejam atentos para não perpetuar comportamentos preconceituosos. Ser diferente é normal, e cabe a nós aceitarmos cada um do seu jeito”, reforça.
Deficiência intelectual: causas e características
A deficiência intelectual é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por QI abaixo de 70 e dificuldades significativas no dia a dia, como no autocuidado, comunicação e socialização. Pode ter origem genética, como na síndrome de Down e na síndrome do X frágil, ou ser consequência de fatores ambientais e médicos, como infecções congênitas, problemas no parto, doenças como meningite e a síndrome alcoólica fetal.
“Crianças com deficiência intelectual podem demonstrar um desenvolvimento comportamental mais lento do que o esperado para a idade, além de encontrarem desafios na adaptação e no processo de aprendizagem. A identificação precoce desses sinais faz toda a diferença para oferecer o suporte necessário”, destaca a psicóloga.
Autismo e deficiência intelectual
A especialista explica que embora sejam condições distintas, autismo e deficiência intelectual podem coexistir. Entre 30% e 40% das pessoas no espectro autista apresentam DI, sendo que meninas são mais propensas a ter QI igual ou inferior a 70. Nesses casos, é possível observar limitações cognitivas associadas a dificuldades de comunicação, socialização e comportamentos repetitivos.
Direitos garantidos em lei
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) assegura igualdade de oportunidades e acesso à educação inclusiva, trabalho protegido, saúde, transporte acessível e participação plena na vida social. A norma também prevê punições para práticas discriminatórias.
A participação da família é considerada um pilar no processo de inclusão e desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual ou múltipla. “A presença ativa da família não só fortalece o vínculo afetivo, mas também garante que os direitos sejam reivindicados e que o suporte necessário esteja sempre presente. A inclusão começa em casa e se amplia para toda a sociedade”, reforça Frínea Andrade, que também é mãe atípica de um jovem com autismo.
Frínea Andrade é psicóloga, especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA) e em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), além de mãe atípica. Fundadora e diretora do Instituto Dimitri Andrade, referência no atendimento a pessoas neurodivergentes da infância à vida adulta, incluindo adultos nos níveis 2 e 3 de suporte, com unidades em Boa Viagem, Barro (Recife/PE) e Palmares (Mata Sul de Pernambuco). É autora dos livros Zuri, o rinoceronte sem chifre e Receita de Brincadeiras: A Arte de Desenvolver Vários Tons de Azul. Idealizadora do bloco de carnaval inclusivo Ser Diferente é Normal, criado em 2017, e do Congresso Autismo na Vida Adulta Nordeste, realizado anualmente no Recife desde 2023. Também promove mutirões gratuitos de atendimento, formações e palestras sobre autismo e maternidade atípica. Frínea apresenta o videocast Autismo & Superação, disponível no YouTube e Spotify, voltado à disseminação de informações sobre autismo, neurodivergência e inclusão.
instagram: @frineaandrade / @institutodimitriandrade